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O trabalho desenvolvido pela investigadora, subordinado ao tema da dependência no autocuidado e da transição do membro de família prestador de cuidados para o exercício do papel, teve como referencial teórico a teoria de défice de autocuidado de Dorothea Orem e a teoria das transições de Afaf I. Meleis. 

O primeiro, um estudo exploratório de base populacional, incidindo na caracterização das famílias que integravam dependentes no autocuidado no concelho da Maia. Foi utilizada uma amostra aleatória estratificada tendo sido contactados, entre o mês de fevereiro e abril de 2011, um número de famílias por subsecção territorial num total de 1.491. Para a recolha de dados foi aplicado o formulário "Famílias que integram dependentes no autocuidado”. 

O segundo estudo, de natureza qualitativa, teve por base o lançamento de dez entrevistas semiestruturadas a familiares prestadores de cuidados que integraram o primeiro estudo e referenciados como informantes privilegiados, com vista a compreender a forma como os membros de família prestadores de cuidados experienciam a transição para o exercício do papel, identificando-se, também, os fatores que interferiram com a transição. 

Apurou-se que a proporção de famílias clássicas do concelho da Maia que integram uma pessoa dependente no autocuidado é de 8,38% e que, por freguesia, não é idêntica a proporção de famílias que integram pessoas dependentes, verificando-se, ainda, que não é adequada a forma como foi planeada a criação das Equipas de Cuidados Continuados Integrados (ECCI). 

De facto, a ECCI de Castelo da Maia inclui um número maior de freguesias que integram uma proporção mais elevada de famílias com dependentes no autocuidado (i.e. Silva Escura, Vila Nova da Telha e Moreira) do que a ECCI de Águas Santas, S. Pedro de Fins e Folgosa, estando atribuídas à ECCI de Castelo da Maia 18 lugares e à ECCI de Águas Santas 20 lugares. Foram, ainda, identificados dois tipos de perfis de casos em função da dependência no autocuidado: o caso de famílias que integravam pessoas dependentes que estão "acamadas” e o caso de famílias que integravam pessoas que apresentando dependência, não estão "acamadas”. 

No que diz respeito à transição para membro de família prestador de cuidados verificou-se que estes indivíduos não foram preparados para o exercício do seu papel cuidador e que o desenvolvimento de competências para tomar conta de outrem foi alcançado através de um processo de aprendizagem por tentativa e erro. Evidencia-se, assim, que a preparação para o exercício do papel de membro de família prestador deve ser assumida como uma prática profissionalizada, pelos enfermeiros, no sentido de favorecer-se uma transição situacional saudável e, igualmente, melhorar a condição de saúde e promover a autonomia dos dependentes no autocuidado. 

Os resultados obtidos neste estudo indicam que estão a descoberto necessidades em cuidados de enfermagem, ou seja, as pessoas dependentes no autocuidado e os membros de família prestadores de cuidados não têm recebido os cuidados adequados. A produção de conhecimento sobre o fenómeno da dependência no autocuidado em contexto familiar capacita os enfermeiros para participarem na definição de políticas de saúde que vão de encontro às necessidades em cuidados de enfermagem da população, no sentido da reorganização territorial das ECCI, da atribuição de lugares de acordo com as necessidades da população e da dotação adequada de enfermeiros.