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Entrevista Professora Manuela Martins
ESEP - GDIAP



Entrevista com a Professora Manuela Martins
Vencedora do Prémio Maria de Lurdes Sales Luis 2018

Docente na Escola Superior de Enfermagem do Porto, a Professora Manuela Martins foi enfermeira durante 11 anos, tendo sido enfermeira especialista e enfermeira-chefe. Em 1983 começou a colaborar com a Escola Cidade do Porto e desde 1991 que se dedica por completo à docência. 

Com a experiência que foi adquirindo ao longo destes anos, Manuela Martins explica o que está diferente na enfermagem dos dias de hoje, fala sobre os novos desafios que os enfermeiros enfrentam e sobre os projetos que tem desenvolvido na ESEP.


Quais são as principais diferenças na enfermagem dos dias de hoje?

A enfermagem está diferente, mas não quer dizer que seja uma diferença drástica, porque nós ainda encontramos muita coisa no terreno que é igual ou pior do que na década de 80. O que nós encontramos é um desenvolvimento de conhecimento nitidamente diferente, mas as práticas, na minha opinião, não tem acompanhado essa diferença. Se andarmos no terreno é possível encontrarmos muitos locais onde se trabalha como se trabalhava há 20 ou 30 anos atrás. Não houve uma evolução. E há outros locais que progrediram imenso. Onde eu acho que se evoluiu mais foi, de facto, nos registos, por causa das tecnologias. Agora, quando falamos no cuidar de proximidade, no estar com o doente, isto não tem evoluído, pelo contrário.


Com as mudanças que têm havido ao longo dos anos, quais são os principais desafios que os enfermeiros enfrentam atualmente?

O grande desafio é mostrarmos aos outros profissionais o que é o nosso trabalho e a centralidade do nosso trabalho, que são as pessoas. Muitas vezes a sociedade e as outras pessoas estão à espera que nós sejamos apenas técnicos que fazemos algumas atividades mas que não olhamos para o todo. Às vezes até se questionam sobre as tarefas que nós realizamos, e para as quais estamos preparados, e ficam na dúvida se são para ser feitas por enfermeiros. Para nós conseguirmos evoluir temos de mostrar que a profissão não evoluiu. Temos de demonstrar que temos aprofundado conhecimento sobre como cuidar das pessoas, sobre a forma de acompanhar as pessoas nas transições que vão fazendo, sejam elas de saúde ou doença, sejam transições de ciclo de vida. Preocupa-me também que os enfermeiros sejam vistos pela sociedade como prestadores um serviço de saúde às pessoas, vendo-nos como profissionais com competências apenas para ajudar as pessoas a resolverem dada situação de doença e, de facto, não é assim, atendemos, principalmente, às questões da transição como atrás referi.


O que diferencia a enfermagem ensinada em Portugal daquela que é ministrada no estrangeiro?

Não tenho dúvidas de que, na ESEP, nós ensinamos uma enfermagem muito mais avançada do que aquilo que nós pensamos em relação a outros países. Por isso é que os nossos estudantes, quando vão para outro país, não têm dificuldade nenhuma e depressa chegam a cargos de topo. De facto, nos outros países a formação em enfermagem tem uma postura diferente perante a centralidade da nossa intervenção. 
Os nossos estudantes vão trabalhar para fora mas regressam para fazer pós-graduações ou mestrados, tornando a emigrar porque têm uma formação sólida e são, por isso, valorizados. E a realidade é que lá fora os hospitais já estão à espera que os enfermeiros portugueses façam coisas diferentes. Aqui, muitas vezes vocacionados por um modelo biomédico mais intenso esquecem-se que os enfermeiros estão nas organizações com uma missão muito maior que é cuidar de pessoas e não tratar de pessoas.


Foi recentemente distinguida com o Prémio Maria de Lurdes Sales Luis. A que se deve tal distinção?

Este Prémio é da área da reabilitação e não sei o porquê de ter sido escolhida, aliás até fiquei bastante surpresa com esta distinção. Provavelmente, o facto de este ano me terem atribuído o prémio deve-se a eu ser professora há mais de 30 anos na área da reabilitação. Pode também ter a ver com a postura que eu tenho em relação a esta área, porque acredito que o papel do enfermeiro de reabilitação centra-se na pessoa. É, assim, nosso foco levar as pessoas a serem cidadãos autónomos e com sucesso e esta mensagem deve ter sido o que fez a diferença para eu receber o Prémio Maria de Lurdes Sales Luis. Também penso que o facto de eu continuar muito próxima da reabilitação e de procurar estar presente em momentos significativos da profissão tenha feito com que me escolhessem como a vencedora deste ano.


Na ESEP, a professora desenvolve um Projeto chamado PT4Ageing que já tem implementada a sua fase inicial. Quais são os próximos passos?

Esse projeto está numa fase inicial de recolha de dados na população para fazer um estudo de caracterização dos idosos da região. A 2.ª fase passa por testar um programa que vá além do exercício, seja ele respiratório ou músculo-esquelético simples, e promova outras dimensões como a cognição, a gestão terapêutica, sempre com um acompanhamento individualizado. Penso que é isto que vai potenciar a participação de idosos nas atividades. Cada participante vai ter duas sessões por semana e vai ter sempre uma componente específica relacionada com o seu desenvolvimento e com o seu estilo de vida. 
Além de fazer as atividades em grupo, cada idoso vai ser acompanhado individualmente e isto é o fator diferenciador deste programa. A verdade é que muitos programas têm a ideia de fazer o acompanhamento dos idosos em grupos, mas nós vamos centrar o nosso programa no idoso, na pessoa.
O nosso objetivo final é criar um dispositivo de acompanhamento de idosos com tecnologia mais avançada. No próximo ano e meio, esperamos ter algum tipo de tecnologia que permita fazer o acompanhamento dos idosos para que cada um tenha o seu PT virtual.


Sei que para 2019 tem previsto fazer o lançamento de um jogo dedicado à família. Em que consiste este novo projeto?

O jogo é o fim de um projeto do passado. Desde 2010 que me apercebi que os adultos gostam de jogar jogos de tabuleiro. Numa certa altura coloquei o desafio a uma estudante minha de doutoramento de concebermos um jogo para ensinar os enfermeiros a cuidar da família. Inicialmente criamos um jogo simples para dar formação aos enfermeiros não utilizando metodologias convencionais, mas fazendo o ensino através do jogo. Apesar do sucesso que teve na altura e de termos feito publicações relacionadas com o mesmo, não o conseguimos colocar à venda. 
Depois fizemos um outro jogo para ajudar os enfermeiros a intervirem nas famílias cuidadoras. Adaptamos o jogo que tínhamos concebido anteriormente, mas agora não apenas com a ideia da família, mas também para ajudar a identificar e a intervir nos cuidadores com vista a permitir que eles exteriorizem no jogo o que pensam. Atualmente temos uma empresa que está interessada no nosso jogo e esperamos que este seja lançado entre março e abril de 2019.

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